domingo, 26 de abril de 2009

O Céu que nos protege



Não tenho capacidade de crítica cinematográfica para atestar sem possibilidade de questionamento que um filme é o melhor de todos os tempos ou a melhor produção de um diretor, mas “O Céu que nos Protege (1990)” é talvez uma obra-prima da delicadeza de Bernardo Bertolucci, diretor de filmes cheios de sensualidade como O Ultimo Tango em Paris.

No filme, com quase 20 anos de existência, muitas locações e muitos diálogos aparentemente superficiais, mas que revelam toda a dor e a angústia do casal Kit e Port, interpretado por Debra Winger, John Malkovich que, mergulhados em uma crise lancinante no casamento, resolvem partir para uma expedição na África, na busca de uma reaproximação. Porém, o cenário pouco luxuoso e destruído por ecos da Guerra Mundial acabam por afastá-los ainda mais.

Enquanto o céu belo e a imensidão dos deserto surgem como imponentes, a tentativa de chegar perto torna cada vez mais inútil. Kit e Port estão pertos, mas não estão mais ali, o sexo é burocrático e não tem a paixão que eles julgavam adormecida, talvez o companheirismo e a vontade de não magoar.

Assim como em O Ultimo Tango, quando Bertolucci consegue transpor para a tela toda a sensualidade até então impensada pelas mentes mais recatadas em O Céu que nos Protege, a imagem desafiadora das belas paisagens é o contraponto necessário para representar a dor e o sentimento de fracasso do casal, a perda irreparável dessas que só sentimos com a morte. Essa é a verdade de todos os relacionamentos chegando ao fim, entramos num túnel sem fim, correndo em busca de novas esperanças e tendo o céu como testemunha passiva de todas essas angústias e decepções


Eis a reflexão final do filme
"Por que a gente não sabe quando vai morrer? A gente pensa na vida como um bem incansável. As coisas acontecem num número certo de vezes, um pequeno número na verdade. Por quantas vezes você se lembrou de uma tarde de sua infância, uma tarde tão comum mas que você não poderia viver sem ela? Talvez umas quatro ou cinco vezes, talvez nem isso. Quantas vezes você vai admirar a lua? Talvez vinte e ainda assim parece sem limites."

Um comentário:

Débora Mutter disse...

Lindo.. o teu comentário além do bem elabora e profundo é muito bonito e verdadeiro. Parabéns!