sábado, 16 de maio de 2009

Formatos de Antigos Gibis







Carlos Zéfiro



Sempre gostei de ler gibis. Tal fato se deve porque desde tenra idade mantive contato com eles, inclusive tendo um amigo que àquela época partilhava comigo esse gosto e juntavávamos muitos exemplares, foi o estímulo que precisei para gostar da leitura desde cedo.
Como nasci no ano de 56, estava fadado a ser um debilóide patriota pelo desastre que se tornou a educação brasileira. A minha salvação foram os gibis – não me prendendo só aos de super-heróis oriundos do EUA -, já na adolescência, conheci aqueles chamados "catecismos" (quem lembra??)de Carlos Zéfiro escondidas dentro das capas.

Uma viagem pelo cangaço.



O fenômeno do Cangaço ocorreu no Polígono das Secas, região do semi-árido nordestino conhecida como caatinga, uma área com cerca de 700.000 km de extensão.

Quase todos os rios da caatinga secam completamente na época da estiagem, levando o sertanejo ao desespero por não conseguir plantar sequer o suficiente para o consumo de sua própria família. É obrigado a cavar cacimbas no leito dos rios para obter água. Em certos lugares, usam a raiz do umbuzeiro, que concentra uma grande quantidade de líquido.

Nos sertões de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe não existe só aridez. Além do Rio São Francisco - o velho Chico, como é conhecido - que não seca, existem cachoeiras, como a de Triunfo-PE, com queda d´água de 60 metros.

Na Serra do Araripe, divisa do Ceará com Pernambuco, há uma mata densa na região de Barbalha (CE), com árvores de até 40m de altura; uma floresta tropical. Em Garanhuns o clima é ameno. No município de Floresta há a Reserva Florestal de Serra Negra, formada por mata densa.

Já no Raso da Catarina e na região de Canudos, na Bahia, a terra está completamente exposta e a aridez é total.

É nesse cenário de contrastes que viveram os protagonistas da história do Cangaço, que teve em Lampião seu mais importante personagem.

• Canga - S. f. 1. Peça de madeira que prende os bois pelo pescoço e os liga ao carro, ou ao arado;2. Pau que carregadores põem aos ombros para suspender fardos; 3. Fig.- Opressão, sujeição.
• Cangaço - Bras. 2. O Conjunto das armas dos cangaceiros; 3. O gênero de vida dos cangaceiros.
• Cangaceiro – S.m. Bras. Bandido do sertão nordestino, que anda sempre fortemente armado, bandoleiro, cabra. Os cangaceiros carregavam suas armas passadas pelo pescoço e ombros, tal qual um boi na canga.

Fonte: Aurélio Buarque de Holanda Ferreira - Novo dicionário da língua portuguesa



Na sua forma mais conhecida, o Cangaço surgiu no Século XIX, e terminou em 1940. Segundo alguns relatos e documentos, houve duas formas de Cangaço:

A mais antiga refere-se a grupos de homens armados que eram sustentados por seus chefes, na sua maioria donos de terras ou políticos, como um grupo de defesa. Não eram bandos errantes, pois moravam nas propriedades onde trabalhavam subordinados aos chefes.

A outra refere-se a grupos de homens armados, liderados por um chefe. Mantinham-se errantes, em bandos, sem endereço fixo, vivendo de assaltos, saques, e não se ligando permanentemente a nenhum chefe político ou de família. Estes bandos independentes viviam em luta constante com a polícia, até serem presos e mortos.

Esta é a forma do Cangaço mais conhecida e da qual trata esta exposição, através de imagens que contam, principalmente, histórias do bando de Lampião.

São protagonistas desse tipo de Cangaço:

• Cangaceiro - Normalmente agrupados em bandos procuravam manter boas relações com chefes políticos e fazendeiros. Nestas relações eram frequentes a troca de favores e proteção em busca da sobrevivência do grupo.

• Coronel - chefe político local; dono de grandes extensões de terra; autoridade político- econômica; tinha poder de vida e morte sobre a sociedade local; suas relações com os cangaceiros eram circunstanciais; seu apoio dependia do interesse do momento.

• Coiteiro - além dos coronéis, compunha o cenário do cangaço o coiteiro, indivíduo que fornecia proteção aos cangaceiros. Arrumava alimentos, fornecia abrigo e informações. O nome coiteiro vem de coito, que significa abrigo. Quanto menor o poder político e financeiro do coiteiro, mais ele era perseguido pelas forças policiais, pois era uma valiosa fonte que poderia revelar o paradeiro de grupos de cangaceiros. Existiram coiteiros influentes: religiosos, políticos e até interventores.

• Volantes - forças policiais oficiais, embora houvesse também civis que eram contratados pelo governo para perseguir os cangaceiros.

• Cachimbos - perseguiam cangaceiros por vingança e não tinham vínculo com o governo.

• Almocreves - transportavam bagagens, bens materiais.

• Tangerinos - tocavam boiada à pé.

• Vaqueiro - condutor de gado, usava roupa toda feita de couro para proteger-se da vegetação típica da caatinga (espinhos, galhos secos e pontudos).
Aprecie esta exposição e viaje pelo mundo do cangaço através da vida de Lampião.

Maria Bonita e Lampião com os cachorros Guarani e Ligeiro, em 1936.



O certo é que Lampião
Tinha o coração de aço
Beijava qualquer morena
Mas não queria embaraço
Mas vivia apaixonado
Por não haver encontrado
A rainha do cangaço.

Porém um dia feliz
Ele encontrou sua dita
Bem perto de Paulo Afonso
Numa casinha catita
Estava seu grande amor
Uma melindrosa flor
A “tal” Maria Bonita.

(Versos de Antonio Teodoro
dos Santos, publicados no folheto de cordel “Lampião, o Rei do Cangaço”)