O Brasil assistiu, apreensivo, ao drama da jovem Eloá e sua amiga, feitas reféns pelo seu tresloucado namorado. Para além da comoção, tão ao gosto da sensibilidade dos brasileiros, situações assim devem nos fazer refletir sobre o mundo que estamos construindo... Assim, neste espaço apresento alguns tópicos para você, prezado Leitor meu, pensar...
1. Nossa sociedade atravessa uma profunda crise que tem como motivo mais profundo uma tremenda falta de valores. Quantos – sobretudo jovens – já não sabem mais o motivo fundamental da existência e já não conseguem individuar uma razão que dê razão à vida. Vive-se do dia-a-dia, do imediato, dessa ou daquela experiência, dessa ou daquela emoção, desse ou daquele imediato e limitado projeto. Mas, o sentido mesmo da existência, esse já não se sabe nem se procura. E quando a vida é só isso, um emaranhado de vivências miúdas e desconexas, quando já não se tem valores maiores pelos quais viver e nortear a existência, então pode-se esperar tudo de pior dos seres humanos.
2. O motivo fundamental da crise de valores é a falta de Deus no horizonte de nossa sociedade. É verdade que o brasileiro é um dos povos mais religiosos do mundo ocidental. No entanto, trata-se de uma religiosidade muito sentimental, chegando às raias do irracional; uma religiosidade cega e fortemente tendente à superstição. Vivência assim não ilumina a vida, não transforma a existência, não dirige o caminho. No Brasil, falamos muito em Deus, mas não se sabe bem de que “deus” falamos... Ora, sem Deus – o Deus de Jesus Cristo, vivido na vida da Igreja e experimentado na oração, na convivência fraterna e na vida sacramental, o Deus que plasma nossas ações e nossa vida moral -, já não se tem um critério claro para o certo e o errado, já não mais se sabe com precisão o limite entre o permitido e o proibido. Matando-se Deus no coração humano e da sociedade mata-se o próprio homem, que se torna desumano e portador de desumanização.
3. Longe de Deus, virando as costas para uma vivência realmente cristã, nossa sociedade vai se tornando presa de uma cultura de violência de exaltação da força e do gosto irresponsável pela aventura. Vai também se tornando a cultura da deseducação afetiva (como é possível que nossos jovens tão cedo na vida se envolvam afetivamente em namoros e relações sentimentais e sexuais precoces e prematuras?). Nosso governo limita-se a propagar a camisinha, mas não se preocupa em educar para o amor, para o compromisso, para uma afetividade vivida a partir de valores perenes. Os próprios pais tornam-se os grande omissos, ausentes na formação afetiva dos filhos, deixando-os entregues à própria sorte, tendo o mundo cão como escola e mestre... Hoje tudo é permitido, tudo é possível, tudo é aceitável em relação a sexo, namoro, afetividade...
4. Finalmente, a terrível marca do pecado, daquele desequilíbrio que nosso fechamento para Deus deixou no coração humano. Temos tendências e sentimentos tremendos e desencontrados; somos capazes do melhor, mas também do pior, somos um poço de contradições. Somente Cristo nos liberta de nós mesmos, fazendo-nos passar de nós do nosso jeito deformado para nós do jeito dele, libertados e transfigurados para Deus.
Escrito por Pe. Henrique
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